Uma História de Amor (2)

    Eu já sabia pouco mais de você e me fascinava. Era comum te ver alí sentado toda tarde com seu canhorro.
   Da sacada te avistava hora sentado; hora deitado ou caminhando pela rua.
   Não era difícil me esforçar para observá-lo.
   Com meu soneto em mãos estava decidida a lhe entregar em mãos, ouvir tua voz.
   E assim fiz naquela tarde. 
   Logo na saída ao descer os degraus apressada, te vi.
  O movimento dos carros não cessavam e eu tinha pressa.
  Estava tomada pela ansiedade do depois.
  Quando me aproximei da grade, te encontrei durmindo, como um anjo.
  Fiquei a te olhar.
  Você não se mexeu.
  Te chamei pedindo que acordasse.
  Em vão, não me respondeste.
  Aumentei o tom da voz pedindo que acordasse por favor, queria lhe entregar algo.
  Abriste os olhos descrente daquela visão.
  De novo chamei vossa atenção estendendo o simples papel pedindo que viesse pegá-lo, era pra você.
  Estonteado, resmungando de dores no corpo, pedindo a morte vieste ao meu encontro.
  Fiquei muda, te olhando, em silêncio, com as mãos estendidas, por pouco tempo.
  Pedí que aceitasse minhas escritas, o que não recusaste, me olhando.
  Lemos juntos, sorriu pra mim e agradeceu.
  Conversamos sobre nós, cada um falou de sí. Esquecia meu nome.
  Convidou-me para que viesse sempre lhe visitar e assim ficou combinado.
  Todos os dias eu parava para conversarmos antes das minhas aulas.
  Nomeou-me como caboclinha, carinhosamente.
  Achei gracioso, enquanto eu lhe chamava de Paulo.
  Para seus amigos tu eras o Paulão.
  Meu coração batia forte na sua presença.
  Nascia em mim o desejo de vê-lo no dia seguinte.

Estela
29-05-10